Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III Sem comentários
[Manual de sobrevivência para comentadores banais]
Existem de todos os tipos e origens. Habilitados, desabilitados. Experientes. À experiência.
Com prosápia gourmet, qualidade Beluga. Em aparato popularucho francesinha.
Rápido e desenvolto ou mancando na observação final.
Adivinhou quem disse comentador e, também, aceitamos quem falou em crítico.
É uma espécie de queixinhas. O preferido da professora. Um bufo.
Um Rottweiller assanhado. Esfaimado. Sem as vacinas em dia. Fazedor de vítimas.
Achtung! Uma distração e induz em erro. Achtung! Uma hesitação e convence. Achtung!
Cada português tem per capita omnipresente no seu quotidiano media, pelo menos, um Marcelo Rebelo de Sousa, um António Vitorino e um Miguel Sousa Tavares em regime on demand basta mudar de canal.
All the opinion makers where do they all come from?, poderiam questionar os Beatles.
Mudar de vida pode ser uma possibilidade. O "ex" é um caldeirão borbulhante de poção mágica de onde brotam Obelixes para o último reduto luso da resistência analítica.
O ex-desportista. O ex-árbitro. O ex-político. A ex-vedeta.
Em Portugal a inactividade leva inevitavelmente à facilidade no rescaldo. À filigrana interpretativa. O Mr. Magoo da arbitragem transforma-se num Pierre Luigi Colina da exegese dos lances da jornada. O ministro demissionário um D. Quixote dizimador de moinhos da política opressiva. O compositor inexistente em avaliador de obra alheia. O caga-tacos faz-se tomba gigantes.
O Reboot profissional põe a zeros as fragilidades. Emancipa potencialidades. Um batptismo retemperador nas águas do rio Jordão do painel televisivo inocenta vícios e desperta qualidades inexistentes.
Na maioria dos casos, em relação aos comentários/críticas A.K.A bitaite ou chorrilho a melhor posição a adoptar seria, por parte dos dissiminadores:
a) retenção na fonte;
b) mocinha recatada e prendada resguardada dos olhares alheios.
I wish. Comentadores não os leva o vento. O comentador (a soldo ou sem facturação) é um cidadão viajado com passaporte pronto e em ordem, com visto assegurado para circular, low cost, livremente pelo espaço sideral da galáxia opinativa.
Como se trata de um território habitado por monstros ferozes (os outros críticos) e perigos imensos (as donzelas enxovalhadas) todas as cautelas são poucas. A beira do precipício algures entre a preferência e a inimizade de estimação em que se encontra a análise leva o comentador a ter que se precaver.
Ficam alguns conselhos.
A apetência do comentador em mergulhar em auto-deslumbre narcisicamente nas águas atraído pelo(a) seu/sua reflexo(ão) é arriscada. Em caso de queda às águas como fazer uma boia? Caro comentador, dispa as calças, dê um nó em cada uma das pernas. Atire-as ao ar de forma a enchê-las. Amarre o cinto no cós das calças. Voilá!
Outra situação. Em caso de partilha de espaço com um crocodilo o comentador deve correr aos ziguezagues. Pressionar o pescoço do animal e tapar-lhe os olhos caso cheguem a vias de facto.
Etc, etc.
Moral da história: devido aos comentadores há uma situação em que aprecio (e prefiro) verdadeiramente os políticos. Quando dizem: NÃO COMENTO.
Achtung Baby.