Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III A sorte
Muito se tem falado dela, a propósito do que se passou antes e depois de Donetsk. Em relação à sorte…
não se conhece receita
já tem dado jackpot
passagem
pontos
há a de principiante
a do jogo
há quem tenha muita
a dos campeões é uma estrelinha
diz-se que favorece os audazes
às vezes é supersticiosa:
alguns apostam sempre nos mesmos números
outros batem na madeira
cruzes canhoto
por vezes é pouca
às vezes falta uma pontinha
é inexplicável
há que fazer por ela
em certas alturas é madrasta
nem sempre se pode contar com ela
desconhecemos quando surge o seu auxílio
ou quando irá terminar
nem sempre aparece
nem se sabe quando isso irá suceder
faz a diferença
não é para todos:
nuns casos manda à barra, noutros ajuda a entrar
dizem que azar no jogo, sorte no amor
nem sempre é merecida
às vezes aparece no último instante
outras vai contra a corrente
em relação à sorte, ela também conta
mas, no que respeita a penáltis, nem é bom falar nisso
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III Àcerca da vitória...
Agora que andamos com a cabeça encafuada nos resultados do euro 2012 talvez valha a pena perder um pouco de tempo a pensar naquilo a que todos aspiram: a vitória.
E porque hoje frente à Dinamarca só ela nos interessa, ficam algumas notas:
a vitória é impositiva
mais do que a menina da caixa quando insiste: «Não vai precisar de saco? Não vai precisar de saco?»
às vezes é só moral
em relação à vitória há as que sabem a pouco
as sofridas
as que não se esperava
as que não se conseguiram, mas com que se contava
e as com que se contava
há, também, aquela que fica à espreita
a pequena e a grande vitória
a vitória de todos
e a da arma secreta
a conseguida no último momento
a rápida
provavelmente todas valem o mesmo, mas há umas mais saborosas do que outras
umas são justas e outras não
algumas vitórias nunca acontecem
umas acontecem sem preparação
outras foram profundamente planeadas
certas não são aquilo que estávamos à espera
umas empolgam-nos mais do que outras
outras entusiasmam-nos para novos voos
algumas são mais importantes do que outras
umas têm um espírito «tudo pára quando a gente faz amor»
outras «no future»
ou por mais 50 euros levos as maiores
umas acrescentam um elã
outras são a feijões
todas são preferíveis à derrota
…
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III Portugueses do it better
[Lista para reforço da auto-estima, antes do jogo contra os alemães que, por questões de modéstia é reduzida.]
porque em algumas circunstâncias mais vale um português explícito do que um inglês pudico
além de que um português, é imprevisível: joga ao ataque, mesmo quando devia permanecer na defesa
porque os italianos andam enganados e a viver de créditos alheios
os espanhóis é mais touradas
os franceses ainda não ultrapassaram o trauma Sarkozy
os portugueses são inconscientes
aventureiros
porque ser desenrascado acaba por compensar
as saudades são tramadas
a tradição ainda é o que era
contra factos não há argumentos
cada um é para o que nasce
um povo que com uma caravela exígua alcança qualquer parte do globo dá garantias
se queremos alguma coisa bem feita é melhor sermos nós a fazê-la
a experiência é madre todas as cousas
os portugueses conseguem, facilmente, pôr maus resultados em perspectiva
ambicionando laranjas doces são especialistas em fazer limonadas refrescantes de limões ácidos
acham-se melhores do que, realmente, são
e a arrogância tem o seu quê de afrodisíaco
em cada português um special one
os portugueses trabalham bem sobre pressão
estão habituados a desbravar locais onde nenhum homem esteve antes
ficam altamente motivados quando as coisas lhes interessam
adaptam-se, rapidamente, a situações adversas
os portugueses sempre consideraram que tudo o que vem à rede é peixe
podem nem sempre ser meigos, mas vão ao que interessa
tudo aquilo a que se propõem fazem bem
os alemães têm mais com que se preocupar
somos conhecidos por não deixar nada a meio
não poderia ser de outra maneira
Quem conseguir que prove o contrário!
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III Um blogue é...
Após alguma análise e tendo em consideração o rescaldo dos últimos meses, considera-se que um blog é:
um tópico de conversa
uma desculpa para não participarmos mais nas tarefas domésticas e irmos buscar os miúdos à escola
um hobby de que mais gente tem conhecimento
uma maneira de nos sentirmos importantes
de podermos tratar por colega Pedro Santana Lopes
de ficarmos a achar que sempre que publicamos pomos o dedo na ferida
de adiar fazer o que é inevitável
de nos convencermos que há gente interessada em que partilhemos as nossas opiniões
devido ao ponto anterior justificarmos gastar mais dinheiro em revistas, jornais, CD’s, idas ao cinema, teatro, exposições, viajar mais frequentemente
uma razão para consideramos a compra de um PC melhor
uma oportunidade para dizer que nos movemos nos mesmos círculos que Pacheco Pereira
um modo de angariar rancores por causa do número de visitas
ter obsessões com fontes
hesitações em cores
e quanto a que tags incluir
quem permitir deixar comentários
incluir ou não participações
que widgets disponibilizar
a única maneira possível para usar palavras como post
de poder usar desculpas como: tenho que ir tratar do meu layout; preciso de ir mudar a template; tenho uns comentários para moderar
um pretexto para fazer menos desporto
uma esperança de que alguém nos acabará por convidar a escrever nalgum sítio que valha a pena, sobre alguma coisa que importe
o que provaria que não é uma perda de tempo
…
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III Música para o fim do mundo
Sem música e livros ficaríamos com mais horas por preencher.
No que me diz respeito estou completamente tranquilo. Já abasteci a minha biblioteca e se o mundo acabasse amanhã não me faltaria banda sonora para preencher os momentos finais. Em vinil, compact disc, MP3, Flac, Cue, Ogg… pelo sim, pelo não, tenho, também, algumas caixas com as temporadas completas das minhas séries favoritas.
É impossível determinar quanto tempo demorará o fim do mundo! É melhor precavermo-nos.
Posso ironizar quanto à roupa adequada para a ocasião. Hesitar quanto à última refeição. Mas no que diz respeito a música… musicalmente estou preparado tanto para o fim do mundo, como para as mais variadas hipóteses extremas: do acabar numa ilha deserta, a uma invasão marciana, ao reaparecimento dos dinossauros ou queda de meteoros que nos fará regressar a uma idade do gelo.
Pelo sim, pelo não ando sempre com CD’s à mão. O telemóvel tem gigas de Mp3. Não saio de casa sem o Ipod. Estou a postos.
Com tantos anunciadores de apocalipse, temo que algum irá acertar. E um destes dias, quando não estivermos a contar… zás!
Quero estar salvaguardado. Com música a jeito. Musicalmente estou prevenido para o fim do mundo. Quero que isso fique bem claro! Ao contrário da economia portuguesa, já elaborei um plano B. A minha estratégia de salvação passa pela britpop, vai até ao clássico, faz diagonais no Jazz, inclui música portuguesa, lateraliza na World Music…
E você está preparado para o fim do mundo? Musicalmente falando, claro? Ainda há tempo!?
De memória posso deixar algumas sugestões… coisas que tenho nas prateleiras do meu plano de contingência:
MILES DAVIS
1949 – The Complete Birth Of The Cool
1970 – Bitches Brew
1983 – Star People
1984 – Decoy
1985 – You’re Under Arrest
1986 – Tutu
1989 – Aura
1989 – Amandla
HERBIE HANCOCK
1965 - Maiden Voyage
1973 - Head Hunters
THE BEATLES
1965 - Rubber Soul
1966 - Revolver
1967 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
1967 - Magical Mystery Tour
1969 - Abbey Road
DAVID BOWIE
1969 - Space Oddity
1970 - The Man Who Sold the World
1971 - Hunky Dory
1972 -The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars
1980 - Scary Monsters (and Super Creeps)
PATTI SMITH
1975 - Horses
TOM WAITS
1980 - Heartattack and Vine
1983 - Swordfishtrombones
1985 - Rain Dogs
1987 - Franks Wild Years
FRANK ZAPPA
1976 - Zoot Allures
…
Nota: o fim do mundo é uma coisa séria. Uma lista para os últimos dias não é fácil. Aceitam-se propostas.
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III Já quis ser...
Depende. Varia. Muda-se de ideias.
Algumas são estranhas. Do género: #$£∑w*Ø≈?@ 7
Não há impossíveis. Ou não parece.
Fazendo um balanço, nalguns casos embaraça-nos voltar a pensá-lo.
Há quem goze.
Esquecemo-nos. Outras vezes não. Nas restantes é o melhor.
Para o conseguir não basta ser crescido.
Nem sempre é relevante. No entanto…
Cada um sabe de si. Não vale copiar!
Fica a minha lista [resumida] do que já quis ser. Subtraindo os suspeitos do costume.
Semelhanças são mera coincidência. Mas vale na mesma!
outra coisa
não podendo sê-lo
uma Pop Star
guitar hero
escocês
(in)justo
isento
capaz de rogar pragas
imune
de ideias fixas
fora-da-lei
mais crédulo
imperturbável
alheio
herói
finalista
totalista
vencedor na lotaria
adepto do clube campeão
capaz de olhar em frente
optimista
vidente
capaz de encontrar a medida certa
mais velho
capaz de dizer não
bigger than life
super-herói
cavaleiro de capa e espada
capaz de caçar encontrar Moby Dick
bom a arranjar tempo
Mickey Rourke em 9 ½ weeks
Daniel Day-Lewis em The unbearable lightness of being
Marlon Brando em On the Waterfront
garimpeiro
fabricante de obras-primas
tanta coisa ao mesmo tempo
…
mas o que eu gostava mesmo era
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III Já me apeteceu...
[Lista censurada]
roubar laranjas
ficar a dormir durante o horário de expediente
mudar o nome às coisas
marcar cartas
viciar dados
ir a festas sem ser convidado
apanhar comboios sem saber para onde íam
armar em Tom Waits
ver só cinema italiano
inventar poções
lapidar diamantes
plantar um pinhal
dar um murro a alguns idiotas
saber quanto tempo me resta no planeta
nascer outra vez
realizar um filme série B
não me preocupar com o sentido das coisas
acabar com os pessimismos
criar fortuna
não me inquietar com consequências
riscar a palavra ridículo do meu vocabulário
abrir um restaurante de tapas
(não) ir em conversas
deixar-me de cepticismos
acreditar em improbabilidades
deixar andar
passar das palavras aos actos
…
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III Afinal, quando morre a esperança?
[Lista (resumida) de esperanças imprescindíveis]
Em época de crise o que nos resta é a esperança. É verdade que não garante, mas funciona às mil maravilhas.
Quando nos questionamos sobre como vão correr as coisas, se daremos de caras com Hate mail, com os burros na água, ou se elas vão melhorar, temos esperança.
É inerente. Todos temos telhados de vidro. Não é feitio é natureza.
A esperança é um “talvez te safes”, um “pode ser que gostem de mim”.
Há em nós um esperançoso, confiante, no cumprimento do acordo, ou em escapar à justa.
Vive-se na corda bamba da expectativa.
Ela é a última a morrer. Longevidade de Matusalém. Quando tudo termina, ainda por cá anda.
Não se sabe de onde vem e para onde vai. Desde que vá por aí. Por onde mais nos convém.
Tem tipo de playoff. Ou salva todos.
Dão-se alvíssaras a quem souber a duração média de uma esperança.
E, já agora, quando é melhor vermo-nos livre dela.
Como sabemos que já não vale a pena?
Pistas, por favor! Já agora, ficam só algumas
ESPERANÇAS A TER POR PERTO
o paraíso, se valer a pena como dizem
o chapéu de chuva nem sempre é a melhor opção
um dia haverá um frango com pelo menos quatro pernas
as sogras justificam-se
mesmo se o cogumelo atómico estiver sobre a nossa cabeças, as coisas acabam por ficar melhores
na mebocaína
na palavra dos outros
na invisibilidade quando não queremos ser vistos
embora a manifesta falta de evidências que, connosco, será diferente
nas certezas do borda d’água
a eficácia dos rebuçados do dr. Bayard
os pombos não vão estar na estátua da praça
não há relação entre a ingestão de chocolate e o aumento de peso
ninguém vai reparar
ninguém quer saber
nem se dá conta das olheiras
a tinta para o cabelo, apesar de mais em conta, é boa
vai haver estacionamento (ou algo aproximado)
o arrumador não está ali pela moeda
o indivíduo que tem o alicate é MESMO dentista
ainda há bilhetes para a final
vai haver uma segunda data para o concerto esgotado
apesar de #*■≈∑Ø#|$#!, amanhã não vai haver ressaca
a última senha é minha (essa é a única razão porque resolvi correr)
a brigada de trânsito não vai estar no sítio do costume (três anos são mais do que suficientes)
vou encontrar uma promoção a um euro, cada volume, das obras completas de Jorge Luís Borges
fumar, afinal, faz bem a…
este é o meu último cigarro (depois se verá)
um político que minta menos um poucochinho
as mulheres não se preocupam com a desarrumação
o amor é para sempre (ou um bocadinho menos que a eternidade)
é suficiente ter boas intenções (e não vale a chantagem do inferno)
a nódoa não vai deixar mancha (ou passará despercebida)
os prazos são irrelevantes (para mim)
o episódio não irá terminar assim que eu me sentar no sofá
a chuva só molha mesmo os parvos (e eu estou seco)
as esperanças, tal como os sonhos, concretizam-se e não é preciso estar a dormir
…
Tudo vai correr bem.
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III Perdoar ou não perdoar?
[Lista (provisória) de imperdoáveis]
Perdoar ou guardar rancor?
Desculpar ou levar a mal?
Dar a outra face ou oferecer as costas da mão?
“Paciência”, “não faz mal”, “fica para a próxima” ou “cá se fazem, cá se pagam”?
Favas contadas ou vingança servida fria?
Um D. Corleone vingativo, um Tony Soprano pronto a fazer estragos ou Dalai Lama perdoando a ocupação do Tibete?
NÃO PERDOO
os ataques às Torres Gémeas
subsídios anulados
ordenados cortados
feriados ao fim-de-semana
finais desperdiçadas
fazerem-se à falta
derrotas consentidas
pontos mal perdidos
críticos que parecia que tinham lido a obra
realizadores que fazem filmes que não são para serem vistos
escritores com livros que prometem até ao fim
intelectuais que se armam
liberais fundamentalistas
chatos que metem conversa
engraçados sem sentido de humor
gente que se deixa comprar
que não se importava de vender
que gosta de aparecer
subsídios para os amigos
cargos para os conhecidos
uma mão lava a outra
previsões que não se confirmam
promessas que não se cumprem
desculpas que não se evitaram
sugestões desnecessárias
reparos despropositados
pratos que não ficaram iguais ao livro de receitas
médicos que vão chegar atrasados
que, afinal, vão ter que desmarcar
consensos impostos
bem intencionados
políticos que dão impressão de serem diferentes
fico-lhe a dever…
não faz mal, pois não?
posso ajudar?
vizinhos que acordam cedo ao domingo
que lavam o carro à frente do prédio
voluntários para ajudarem na manobra
impacientes na fila de atendimento
automobilistas nervosos
shampoos que, afinal, ardem nos olhos
iogurtes quase sem pedaços
rotinas que são vidas
destinos que no folheto eram de sonho
rodeios glico-doces
detergentes que não tiram nódoas
promoções que saem mais caras
descontos que são só no caso de…
períodos de carência
exigências de fidelização
doses que, afinal, só dão para um
chuva nas férias
anúncios de higiene íntima
máquinas de barbear que parecia que cortavam à primeira passagem
calças que, bem vistas as coisas, ao contrário do que dizia o anúncio precisam de um rabo bem feito para assentarem na perfeição
não ser o quinto zepellin
…
Não me levem a mal.