Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III Perdoar ou não perdoar?
[Lista (provisória) de imperdoáveis]
Perdoar ou guardar rancor?
Desculpar ou levar a mal?
Dar a outra face ou oferecer as costas da mão?
“Paciência”, “não faz mal”, “fica para a próxima” ou “cá se fazem, cá se pagam”?
Favas contadas ou vingança servida fria?
Um D. Corleone vingativo, um Tony Soprano pronto a fazer estragos ou Dalai Lama perdoando a ocupação do Tibete?
NÃO PERDOO
os ataques às Torres Gémeas
subsídios anulados
ordenados cortados
feriados ao fim-de-semana
finais desperdiçadas
fazerem-se à falta
derrotas consentidas
pontos mal perdidos
críticos que parecia que tinham lido a obra
realizadores que fazem filmes que não são para serem vistos
escritores com livros que prometem até ao fim
intelectuais que se armam
liberais fundamentalistas
chatos que metem conversa
engraçados sem sentido de humor
gente que se deixa comprar
que não se importava de vender
que gosta de aparecer
subsídios para os amigos
cargos para os conhecidos
uma mão lava a outra
previsões que não se confirmam
promessas que não se cumprem
desculpas que não se evitaram
sugestões desnecessárias
reparos despropositados
pratos que não ficaram iguais ao livro de receitas
médicos que vão chegar atrasados
que, afinal, vão ter que desmarcar
consensos impostos
bem intencionados
políticos que dão impressão de serem diferentes
fico-lhe a dever…
não faz mal, pois não?
posso ajudar?
vizinhos que acordam cedo ao domingo
que lavam o carro à frente do prédio
voluntários para ajudarem na manobra
impacientes na fila de atendimento
automobilistas nervosos
shampoos que, afinal, ardem nos olhos
iogurtes quase sem pedaços
rotinas que são vidas
destinos que no folheto eram de sonho
rodeios glico-doces
detergentes que não tiram nódoas
promoções que saem mais caras
descontos que são só no caso de…
períodos de carência
exigências de fidelização
doses que, afinal, só dão para um
chuva nas férias
anúncios de higiene íntima
máquinas de barbear que parecia que cortavam à primeira passagem
calças que, bem vistas as coisas, ao contrário do que dizia o anúncio precisam de um rabo bem feito para assentarem na perfeição
não ser o quinto zepellin
…
Não me levem a mal.