Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III Afinal, quando morre a esperança?
[Lista (resumida) de esperanças imprescindíveis]
Em época de crise o que nos resta é a esperança. É verdade que não garante, mas funciona às mil maravilhas.
Quando nos questionamos sobre como vão correr as coisas, se daremos de caras com Hate mail, com os burros na água, ou se elas vão melhorar, temos esperança.
É inerente. Todos temos telhados de vidro. Não é feitio é natureza.
A esperança é um “talvez te safes”, um “pode ser que gostem de mim”.
Há em nós um esperançoso, confiante, no cumprimento do acordo, ou em escapar à justa.
Vive-se na corda bamba da expectativa.
Ela é a última a morrer. Longevidade de Matusalém. Quando tudo termina, ainda por cá anda.
Não se sabe de onde vem e para onde vai. Desde que vá por aí. Por onde mais nos convém.
Tem tipo de playoff. Ou salva todos.
Dão-se alvíssaras a quem souber a duração média de uma esperança.
E, já agora, quando é melhor vermo-nos livre dela.
Como sabemos que já não vale a pena?
Pistas, por favor! Já agora, ficam só algumas
ESPERANÇAS A TER POR PERTO
o paraíso, se valer a pena como dizem
o chapéu de chuva nem sempre é a melhor opção
um dia haverá um frango com pelo menos quatro pernas
as sogras justificam-se
mesmo se o cogumelo atómico estiver sobre a nossa cabeças, as coisas acabam por ficar melhores
na mebocaína
na palavra dos outros
na invisibilidade quando não queremos ser vistos
embora a manifesta falta de evidências que, connosco, será diferente
nas certezas do borda d’água
a eficácia dos rebuçados do dr. Bayard
os pombos não vão estar na estátua da praça
não há relação entre a ingestão de chocolate e o aumento de peso
ninguém vai reparar
ninguém quer saber
nem se dá conta das olheiras
a tinta para o cabelo, apesar de mais em conta, é boa
vai haver estacionamento (ou algo aproximado)
o arrumador não está ali pela moeda
o indivíduo que tem o alicate é MESMO dentista
ainda há bilhetes para a final
vai haver uma segunda data para o concerto esgotado
apesar de #*■≈∑Ø#|$#!, amanhã não vai haver ressaca
a última senha é minha (essa é a única razão porque resolvi correr)
a brigada de trânsito não vai estar no sítio do costume (três anos são mais do que suficientes)
vou encontrar uma promoção a um euro, cada volume, das obras completas de Jorge Luís Borges
fumar, afinal, faz bem a…
este é o meu último cigarro (depois se verá)
um político que minta menos um poucochinho
as mulheres não se preocupam com a desarrumação
o amor é para sempre (ou um bocadinho menos que a eternidade)
é suficiente ter boas intenções (e não vale a chantagem do inferno)
a nódoa não vai deixar mancha (ou passará despercebida)
os prazos são irrelevantes (para mim)
o episódio não irá terminar assim que eu me sentar no sofá
a chuva só molha mesmo os parvos (e eu estou seco)
as esperanças, tal como os sonhos, concretizam-se e não é preciso estar a dormir
…
Tudo vai correr bem.
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2 comentários
De Ricardo a 05.05.2012 às 22:22
De Lwillow a 06.05.2012 às 14:08
Quanto à esperança eu caracterizo-a tal como um medicamento. Serve para atenuar as dores da vivência e pode ser útil caso seja tomada com moderação. Esperança a mais é ingenuidade ou estupidez e algo negativo para a necessidade de viver de um modo pro-activo e pragmático , esperança a menos é sinal de indesejados níveis de crença e perseverança pois a esperança é uma das alavancas para não perder as forças em algo positivo.
Eu tenho esperança de poder viver bem sem necessidade de ter esperança .