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III O gosto, digo, A arte de complicar

Terça-feira, 15.05.12

Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor.

 

Navalha de Ockham

[William de Ockham, frade franciscano inglês do séc. XIV]

 

Ser complicado é um arrepiar caminho para a desistência.

É ser português. No que tem de pior em sê-lo.

Um luxo. Sai caro.

Acaba-se sem nada. A precisar de consolo. De colinho.

Quase prefiro asneirar. Asneirar é pisar o risco. Complicar é…

Bem, complicar é complicar. Não são precisas grandes explicações.

Sabem do que estou a falar. É o contrário de relativizar. A outra face da picuinhice. O plano oposto do deixa andar.

A complicação é inexpressiva. Com e sem botox.

Actua sem se dar conta. Nisso é como as vacinas.

Mas acaba por matar. Como um vírus mortal.

Simplicidade, isso sim é uma qualidade. Mas, rareia…

   Por questões de stress, produtividade, índices de felicidade e falta de pachorra, às vezes acho que não devia complicar. Esse elemento podia e deveria ser-me contabilisticamente retirado.

O título do post é um exemplo da minha incapacidade de o conseguir. Sem prémio de consolação para a minha desmotivação.

   A mudar alguma coisa em mim seria a minha mania de complicar. Acerca de fumar, já falei primeiro (desesperado) aqui, aqui e depois aqui (inchado como um peixe balão). Mas, o que lá vai, lá vai.

A minha vontade era ter audácia épica de Eneida para deixar de complicar. Entrar num restaurante com reconhecimento Michelin e, inconsciente, não me negar a manjares e néctares e permanecer sereno mesmo quando, tranquilamente, solicito a conta que sei não poder pagar. Sem complicar. Como quem tem uma Troika pessoal à perna e isso não o preocupa. Um Howard Stern aspirando, sem condições, a nobel da paz mas convencido da vitória certa.

É caso para dizer: «Se eu tivesse juízo, não queria saber».

Porquê?

Na expressão do produto da “realização pessoal” [a eterna subtracção entre o feito e o que ficou por fazer] temos:

 

{o já feito [(trabalho+empenho) - capacidade para complicar] - o que ficou por fazer}

sonhos+ambição

 

Tudo seria diferente se não contássemos com as complicações. Oh, dias de grandes realizações! Complicar atrapalha. Desmotiva. Faz desistir. Reduz.

É uma óptima maneira de arruinar boas possibilidades.

De evitar arregaçar as mangas.

“Não vou dizer isso”, “fazer aquilo”, porque… Hum, se fosse bom não estava guardado para mim.

Um pesadelo sem ser preciso estar a dormir.

É nascer a querer ser já crescido.

É um driblar-se a si mesmo.

Exige sempre um impresso suplementar.

Suscita a dúvida e a hesitação.

Quem complica não dá mundos ao mundo.

É partir e repartir e ficar com a pior parte.

Pode, eventualmente ter o seu quê de preventivo. É um Pantene Pro-V, bem intencionado, no resguardo do couro cabeludo. Mas não passa disso.

Evita, por exemplo, mais candidatos para o Ídolos.

Mas…

   Se a complicação fosse uma música seria uma marcha triunfal. De melodia fanfarrona. Quem não passa sem ela?

   “Complicar” está nos antípodas do “deslumbre irrealista”. Algures entre Nelson na Nova Zelândia e o Mogadouro.

Sem pensar muito no assunto, repetindo para mim «descomplica!»,  o meu sonho é um destes dias ocupar Paris. Metaforicamente falando, claro! Isso seriam dias de grandes realizações.

   Contra os canhões marchar, marchar!

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publicado por Carlos M. J. Alves às 18:38





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