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III Geometria da amizade

Segunda-feira, 11.06.12

 

 Para o meu grande amigo António Salgueiro

 

Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.

 

Miguel Unamuno

Não quero melindrar o Nuno Crato, mas existem situações em que outras áreas dão, em relação a certos problemas,  melhor conta do recado do que a matemática. Na definição de amizade, por exemplo.

   A filosofia no que respeita à amizade dá um excelente contributo: Aristóteles diz: "Ter muitos amigos é não ter nenhum." [E nós sabemos o trabalho que eles dão] Ou na Ética a Nicómaco, "A amizade é uma alma com dois corpos." E podemos continuar… Nietzsche em relação às questões dos sexos [e aos seus caminhos apertados] não hesita: "As mulheres podem tornar-se facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física."

Claro, não?

   A literatura vai, no entanto, mais longe e para Carlos Drummond de Andrade "A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas." Certeiro?

   Lamento caro Ministro da Educação, mas a amizade tem pouco de matemático. Obrigado, mas não obrigado!

O que menos importa é 2+2=4. Toda gente vive bem com um resultado de 5. Facilmente se fecha os olhos ao 3. E este sob o jugo de dioptrias suficientes passa muito bem por um 8.

   A amizade tem uma matemática difícil. Mas, também, tem pouco de geométrico. Exemplos?

A recta é uma linha infinita com uma única direcção. Ora, a amizade é tudo menos uma recta. Nunca poderá sê-lo. Nem a isso deverá aspirar. A amizade é um emaranhado de linhas. Uma mescla de várias direcções. Indo e vindo. De pontos de chegada e partida. Uma confusão!

A recta impõe-se. Infinita. A amizade não. Obriga-nos a dar o nosso melhor.

É certo que há alturas em que tem muito de infinito. Alguns momentos, pelo menos. Mas por vezes praticamente se esgota. Esvazia. Consome. Para voltar a reacender-se. Nisso tem mais de fénix.

A recta é monótona. Invariável. A amizade não. O que compensa a finitude.

   Também se diz da recta que é o caminho mais curto entre dois pontos quaisquer. E nisso a amizade também tem pouco de recta. Às vezes é mais de ir à volta. De ir e vir pelo pior caminho. De atalhar para chegar mais depressa. De saltar por cima. De não olhar ao acidentado do caminho.

   Com uma certa indulgência à mistura, para mim, a amizade tem mais de círculo: “uma figura plana fechada por uma só linha de forma que todas as linhas rectas, que de um ponto existente no meio da figura se conduzem para a circunferência, são iguais entre si”. Dúvidas? Não sei porquê mas soa-me bem. Estou convencido.

Mas, apesar de tudo, há algo de angustiosamente poético nisso.

   Como conseguir um círculo perfeito?

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publicado por Carlos M. J. Alves às 09:30


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