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III Smoke on the Water

Quinta-feira, 22.03.12

Do conhecimento que tenho (felizmente indirecto) o divórcio litigioso é sempre desagradável. Especialmente se parte de uma relação inseparável. Duradoura. Ando a pensar num. Quero acabar com o tabaco. Ando Freddie Mercury em ritmo I want to break free. Quero deixar de fumar, mas a separação tem sido tempestuosa. Litigiosa.

      Sem nicotina oscilo, maníaco-depressivamente, entre a Madre Teresa e Howard Stern. Somewhere in between. Na minha cabeça ecoa um Varése em centrifugação. Só por isso, eu e todos os que estão na minha situação deviam ver alguns crimes permitidos.

   Deixar de fumar tem-me feito tanto sentido como um “bué” descontextualizado dito para parecer moderno.

      Ando perdido na parte do começar. Tem sido um longo começo.

Arranjar razões é o mais fácil. Caço lições num safari organizado por Pedro Rolo Duarte em Fumo (deixar de fumar é lixado) e mais 80 lições que eu vivi, edição Oficina do Livro de 2007. Procuro conselhos e dicas. Alinho em adesivos e pastilhas.

      Falta-me a motivação. Sou um Sputnik obsoleto e em queda. A multidão adepta da equipa adversária rejubila e grita “óles!” ante a minha incapacidade em não sair fintado.

Guarda para amanhã o que não acabarás por fazer hoje, bem podia ser o meu lema. O espelho da minha incapacidade. Uma criança pouco tentada pelas guloseimas de prémio.

      Não quero gastar dinheiro com tabaco. Sentir-lhe o cheiro (em mim e à minha volta). Não quero sentir-me asfixiado ao subir o último degrau. Eternamente cansado. Nem ouvir «Pai quando é que deixas de fumar?». Acabar com a minha tosse profunda, competindo, cavernosa, com o eco das grutas de Mira de Aire.

Quero assinalar o quadradinho do não fumador. Estar no café sem o cinzeiro à frente. Não entrar num estabelecimento e procurar, como quem está em Wimbledon assistindo atento bola cá bola lá à final, com o público antecipando o Match-point, até encontrar a zona de fumadores. Quero aparecer cedo para a caminhada. Não precisar de um cigarro para o stress, para entreter as mãos, para o tédio, para ajudar a passar o tempo, para acompanhar o café. Quero mudar de hábitos. Um cigarro a menos, uma passada firme. Outro cigarro a menos e o carro a cheirar a alfazema. Outro a menos pelos dedos não amarelecidos. Outro pela ilusão da roupa acabar de vir da loja a cheirar ao perfume da lojista. Tenho maços de anos para compensar. Anseio por verificar que consigo viver com isso. Melhor.

     Quero deixar de fumar. É um longo começo e eu, ainda, só dei os primeiros passos.

Quero ser forte. Um Hércules anti-tabágico. Um Popeye determinado de músculos poderosos. Continuam a faltar-me os espinafres adequados.

Sonho com um estádio cantando em uníssono We are the champions, em minha honra, embalados pela minha vitória esforçada.

Todavia, a equipa adversária continua a vencer. Ainda oiço os “olés!”. Continuo a ser implacavelmente fintado. Em constante fora-de-jogo. Another one bites the dust.

     Há sempre mais uma desculpa. Para mais eu nem sequer gosto dos Queen (true story). Sou mais Smoke on the water.

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publicado por Carlos M. J. Alves às 17:11





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