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III A latosfera

Quinta-feira, 14.02.13

Se alguém lhe disser na cara "É preciso ter lata!" como se você fosse uma mutação de Marylin Manson subvertendo Tainted Love, com orgulho, confirme. 

Pode até acrescentar: "Sim, claro, sou português!".

     Se eu não fosse português gostava de o ser só por causa da lata. O português tem lata. 

Em doses Cheerios familiar.

Não se acanha. Não é acabrunhado. Arroja-se.

Bate à porta para pedir um pezinho de salsa, mas transforma-se, ainda na soleira, em Átila o Huno acabando a saquear a despensa e a assaltar o frigorífico da vizinha. 

Garante qualidades duvidosas.

Vantagens inexistentes.

Confirma prazos por cumprir.

Validades ultrapassadas.

Compromete-se com o impossível.

Pisa o risco.

Enfim, tem lata.

Exemplos?

Ter lata é desvalorizar ao agente da autoridade índices elevados de alcoolémia no limiar da náusea e com evidências na fralda da camisa de vómito recente.

É ser capaz de desmentir aos pais da jovem uma gravidez, com o trabalho de parto em contagem decrescente.

Negar ao cliente irado o cabelo afundado no Risoto, como uma bandeira erguida com esforço no topo do Evereste. 

Ocupar o lugar para deficientes no estacionamento desculpando-se com enxaquecas atrozes.

Negar um flagrante delito ou uma boca na botija.

Uma amante deitada lânguida no quarto do casal.

Dizer-se da oposição com o pin do partido do governo na lapela.

Afirmar-se inocente com a arma fumegando na mão ou, ainda, agarrado ao pescoço da vítima.

     Há latas e latas, mas sem ela não se arranja namorada, não se ganha lugar na fila, não se consegue par para o baile de finalistas...Não se vai longe. É com ela que se conquistam lugares, se recuperam posições, se avança na direcção do El Dorado.

     A lata desafia a vergonha é dissimulada e disfarça, por isso não agrada ao discreto nem serve ao tímido. É desaconselhada pelo bom senso, mas consegue resultados.

     Na lata cabem várias ousadias e uma imensidão de "não custa nada tentar". Fica algures entre o "ver se pega" e o "pode ser que cole". Perto da fronteira do "Não há outra maneira".

Um mundo estratosférico subdimensionado para as necessidades, transversal a todas as classes, com densidade populacional excessiva e sem demografias privilegiadas. 

     A lata recomenda moderação como o Viagra, mas tal como o uso selvagem deste leva a corações a explodir também com ela se observam exageros.

Além disso, a lata pode, muito bem, cair em saco roto. Esse é um risco que se tem de correr. Mas como toda a gente sabe:

"Quem não chora não mama".

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publicado por Carlos M. J. Alves às 16:31





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