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III Tecnologicamente activo

Domingo, 28.04.13

Com a tecnologia vamos mais longe, mais rápido e mais alto. O planisfério ganha contornos de mapa de aldeia, o longe torna-se perto, o intransponível relativiza-se. Não há vertigens nem cansaços desnecessários. Enjoos, desidratações, escaldões, ou o embaraço de ter de inventar uma desculpa com a pessoa à nossa frente.

A tecnologia poupa-nos energia e tempo. Evita o nosso desconforto, o jet lag... Vai e volta por nós, chega lá mais depressa e fresca que nem uma alface. 

Faz as contas por nós, corrige-nos os erros e, ainda, tem tempo para a prova dos nove. Organiza-nos a vida e  trabalha para sermos mais populares. Com ela a Austrália fica ao virar da esquina e Marte aparenta ficar nos arredores.

A tecnologia faz-nos chegar aos dois metros com um clique. Apresenta-nos como  Mr. Universo e tira-nos quilos sem complicações exigindo-nos, unicamente, a actualização do estado.

De uma maneira geral, oferece-se para as coisas chatas. Não há como não gostar de si.

   Sou tecnologicamente activo há anos. Vivo de antenas apontadas e entre pixéis, rodeado de bytes e informação a circular vertiginosa à minha volta. Tenho cabos, fichas, monitores e teclados, telemóveis de gerações ultrapassadas, em número suficiente, para o comprovar.

   A tecnologia e eu temos uma amizade antiga que foi evoluindo transístor a transístor, em colorido technicolor, estereofonicamente sonora e a custo de muita Ram. Com altos e baixos que é como quem diz com  upgrades e downgrades.  

Não tem sido fácil nem barato e tem exigido actualizações constantes, mas em termos de saldo continuo a trocar a caneta pela stylus a preferir a folha de Word ao caderno de linhas e a de Excel ao quadriculado em papel.

   O meu sonho é acordar e com um piscar de olhos a água do banho começar a correr. Um bocejo e a roupa aparece escolhida em cima da cama. Um ronco do meu estômago e as torradas estão feitas e o café da manhã preparado.

Ao longo do dia situações idênticas vão sucedendo, até chegar à noite e um suspiro abrir a porta do minibar e lá de dentro sair um gin tónico magnífico, demonstrando, mais uma vez, que entre o estar vivo e o estar morto fica, claramente, o estar  online e offline, plugged ou unplugged

  Obviamente que para alguns sou dependente, obcecado. Perfeito para uma fogueira anti-progresso alimentada por adoradores do ábaco. Alvo de chacota de ímpios que vivem numa zona aparentemente anti-wireless e sem preocupações com velocidade de rede.

Imunes a downloads e uploads. Avessos ao contágio internauta. Circulando em contramão ou optando pela nacional em vez da auto-estrada da informação. Acusando-me de falta de contacto olhos nos olhos. Descrevendo-me como um inspector Gadget com porcas e hélices saindo dos sítios mais improváveis e incómodos.

Ora isso é para mim algo incompreensível. Não gostar de tecnologia é não admitir que se desenvencilhem por nós. Até porque a tecnologia cala e consente. Sempre de cara alegre. Tem preço, mas não exige de volta, faz no nosso lugar, dá o corpo ao manifesto, mas não fica à espera. Uma secretária incansável e sem horário. Um trabalhador sempre disponível. Um funcionário que abdica das férias, feriados e descanso para nos oferecer tempo extra.

Em suma, para mim não ligar a tecnologia é não gostar que o ajudem. É contrariar milhões de anos de evolução preguiçosa.

   Não sei o que pensar, mas convenhamos, sem tecnologias de que outra maneira nos poderíamos ter conhecido?

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publicado por Carlos M. J. Alves às 09:16





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