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III Nada se perde, tudo se transforma

Sábado, 13.07.13

Talvez haja um tempo próprio. Alturas adequadas, situações mais aliciantes, mais um aperto e um vagar que facilitam. Uma espécie de pré-requisitos para a mudança que impliquem que a partir de certas idades ela traga mais complicações, eczemas e febres súbitas. Talvez se passe da idade e se fique agradado com o carácter definitivo da nossa natureza, temendo, bonacheirões, pela nossa maneira de ser que consideramos, orgulhosos, obra acabada.

Razões mais do que suficientes para não querer mudar.

   Estou habituado às cores usuais, às mesmas marcas, sabores e odores. Honro tudo o que é o de sempre e repugna-me o passageiro das modas. Faço questão no que é do costume e não ligo a tendências.

   Mudar é uma incógnita. Tentativas que podem acabar falhadas. Perdem-se garantias. A mudança destabiliza, desarruma ou, pelo menos, troca o sítio às coisas. Uma canseira que exige coragem e obriga a reconsiderar os gostos, as atitudes, a forma de ser e pensar.

Tudo começa com uma vontade que não tenho. Porque mudar é um recomeço ou, ainda pior, um início. Um rompimento com uma certa familiaridade gostosa, com que bem ou mal tudo lá ía funcionando. É uma traição ao já feito, ao já conquistado, ao já conhecido. É um certificado de menoridade passado ao anterior. Uma ruptura sem garantias.

   Na maioria das vezes são os outros que instigam em nós a necessidade (pouco ou nada evidente para nós) de mudança. Devido ao convívio que mantêm connosco. A nós falta-nos a paciência e disponibilidade, mas eles, atiram-nos para um tribunal identitário implacável, contestando rabugices e subtraindo defeitos. Do seu julgamento sanguinário, sem recurso, retiram (para nossa frustração) como pena a obrigação de nos civilizarem, amansarem e amestrarem.

Bem-intencionados, pedem-nos que mudemos hábitos de anos sem opção de pegar ou largar ou quem está mal que se mude. Em nome de um ar mais moderno, jovial ou de uma maior facilidade no trato.

Idealizam-nos uma nova identidade. Um eu que na maioria dos casos é deles. Preparam-nos para uma recauchutagem urgente e indeclinável, lançando-nos, sem comiseração, num degredo de carácter, um exílio forçado do nosso temperamento. Tiques e manias de sempre deixadas ao abandono. Fatias e mais fatias de uma personalidade arduamente construída contestadas. Um remexer numa estrutura frágil que pode fazer ruir todo o edifício. Uma aparadela nas medidas e organização. Alternativas envenenadas para as nossas falhas.

   A mudança assusta e é arriscada porque mexe no andar da carruagem. Para funcionar tem de ser voluntária e a minha opção, temendo o descarrilamento, é clara:

Não, não quero mudar, muito obrigado!

Até porque depois de tudo contabilizado, facilmente se conclui que os ganhos são mínimos. Mais uma simulação do que uma evolução. Pormenores. E, no fim, há sempre um perigo:

                 há coisas que nunca mudam. 

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publicado por Carlos M. J. Alves às 16:13





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