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III Agora só se for depois

Sábado, 27.07.13

Quantas vezes já não hesitou ou deixou de fazer por achar não se tratar do momento certo?
Se perdeu em considerações, entretantos, desembalou e embalou para, finalmente, renunciar definitivamente?
Como quem teme ir afrontar os astros se for em frente, afundando dois Titanics à sua conta.
Sentindo nos ossos um vento que se levanta nas rótulas, uma humidade que se instala no azimute lombar ou uma tempestade psicológica que se forma no enclave parietal.
Ou põe a hipótese, como quem reinventa o método experimental, de que em relação ao que pretendia haverá, certamente, uma altura mais adequada como desconfia ser o caso para ter varicela, andar de olho nos dentes do siso ou tirar as amígdalas.
Sem ter consciência de que, no fundo, evocar um mau timing é como quem diz: "O que não tem remédio, remediado está".
    Haverá circunstâncias certas para o prazer e para o trabalho da mesma maneira que, e embora esta não seja a melhor escolha de palavras, tenhamos que dar a mão à palmatória que há um momento em que a próstata faz parte mais evidente da nossa vida?
Ou, quando mesmo prendendo a respiração, não conseguimos disfarçar o globo Michael Jordan Special que dá guarida ao nosso umbigo mais do que um melão em disputa de sevens será melhor não pensar em galanteios?
   Não é o momento certo, anda nas bocas do mundo, de cá para lá, como uma chiclete abusada e deglutida por um palato debochado viciado em hálito mentolado.
   Não é o momento certo para uma imensidão de coisas. Para avançar, para dizer sim ou não, para entusiasmos, para arriscar. Não é o momento certo porque nos falta altura, peso ou idade. Por estarmos fora de prazo ou ainda não termos lá chegado. Por nos terem dito isto ou aquilo, termos pressentido aqueloutro ou adivinharmos sabe-se lá o quê. Também não é o momento certo porque nos sobra que fazer ou porque nos sabe bem não ter de.
   Se é certo que quem não arrisca não petisca, o seguro morreu de velho e no fim são poucos os que não pedem tempo extra, concluímos, como consolo.
   Não é o momento certo porque nos falta o interesse ou porque temos outros. Porque não estão reunidas as condições, não eram bem aquelas ou são mesmo essas e cheira a esturro. Não é o momento certo porque não era bem aquilo ou não nos podemos dar ao luxo. Não é o momento certo porque os contras ultrapassam os prós e o negativo foi superior ao positivo. Porque não podemos aceitar senão ficamos a dever favores e como é sabido não há almoços grátis e depois temos a obrigação e e e e e e…
   Não é o momento certo, é um agora não dá. É de quem está convencido que o tempo não está a seu favor ou teme enfrentar o oceano e prefere ficar em terra.
   Justifiquem como anti-precipitação, mas se pretendermos chamar devidamente o nome às coisas é ter medo do ridículo por sentir sobre si todos os olhos de uma enchente no estádio da Luz em noite de jornada europeia, fugir às responsabilidades como da fogueira da inquisição espanhola, estar de pé atrás como quem adivinha areias movediças iminentes, arranjar desculpas como quem jura ter avistado o Bigfoot.
  Se quisermos ir mais longe, para zonas francas mais próximas daquilo de que realmente se trata, temos de admitir que é uma merda de uma perda de tempo. E uma atitude de marinheiro de água doce temendo alergias do sal do mar, de quem vê rugas onde não as há, dá o corpo ao manifesto alheio, se voluntaria para as dores de terceiros.
De quem em relação a ele – o tempo – esquece o mais importante: ele passa a correr.

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publicado por Carlos M. J. Alves às 18:49





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