Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III O primeiro escaldão do ano
Uma camioneta de veraneantes açambarcou, assoberbada, o areal. Unidades furiosas enfrentando destemidas as vagas de ultravioletas, fintando-os como à crise com um arsenal de estratégias perfumadas.
Contestaram as fronteiras entre a zona exclusiva para chapéus e a área das barracas. O arrendamento repousa, auspiciosamente, sob decreto idêntico à lei das rendas mas, ainda assim, este não fez perigar a taxa de ocupação para níveis inferiores aos dias de promoção no Pingo Doce.
O episódio deu-se a seguir a uma dona de casa irada estar prestes a açoitar o marido, por ele perder o lugar junto às rochas para uma loira platinada, ainda perto dos garotos que enterram e desenterram tesouros. Mal se apercebeu que escavam frenéticos prestes a avistar Tiananmen.
O remanescente do contingente iça pavilhão em modo casca grossa à esquerda, novo-rico à direita e queque ao centro. O habitual!
Observando-os conclui-se que, aparentemente, a geleira continua a levar a melhor sobre o saco térmico e a sandes mista faz as vezes do bitoque.
No final com as iscas já ao sol o areal fica lotado, preparado par um bronzeado integral ou às tiras, sobrando apenas lugares ao colo. Acaba disposto em quadrícula, recortado por corta-ventos e chapéus-de-sol de marcas de cerveja, café, bronzeadores e cremes para esfoliação rápida.
Por falar em Inferno, já estirados de caras para o astro-rei e de Best-seller em riste Dan Brown vai à frente nas leituras de verão, deixando José Rodrigues dos Santos bem para trás e Paulo Coelho abaixo do expectável.
A montra dos recém-nascidos possui cerca de quinze palradores, desmentindo as estatísticas da natalidade negativa.
Cerca das onze horas detractores das geleiras e sacos térmicos testam a pressão dos barris de imperial - como quem se assegura da autenticidade dos Michelins novos - do apoio de praia que insiste nos êxitos de verão brejeiros e no berbigão, em partes iguais.
Recuperam, acalorados, da jornada do Grand Slam que teve início uma hora antes, frente ao ponto de hidtratação que agora ocupam, com a mesma euforia que se estivessem em Wimbledon.
Olhando as costas à Benfica do meu vizinho, mantenho os níveis de concentração. Olhos postos na camioneta de veraneantes.
O meu coração continua a ser de Leão e está protegido com cláusula factor 50.
A plateia continua destapando e oleando em proporção inversa ao conselho médico, à medida que o número de caminhantes da ultra maratona enfezada, à beira-mar, aumentam.
A Super-bock continua à frente no caleidoscópio de chapéus-de-sol seguida pela Delta e Buondi. A Ambre Solaire ainda não se viu.
A bandeira começou amarela e acabou vermelha. Até ao almoço chegaram mais sete autocarros. Salvo erro!