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III Tanto barulho para nada

Quinta-feira, 08.08.13

 

I wish my horse had the speed of your tongue.
Shakespeare, Much Ado About Nothing


Colectivamente somos BARULHENTOS. Incómodos. Agitação, balbúrdia, rebuliço não nos intimidam. Impomo-nos, aos safanões, como povo alérgico ao silêncio e apto para provar a todos os dotes de Caruso em cacofonia.

O "demasiado alto" foi riscado vitaliciamente e por isso vamos à frente e isolados, numa competição quase sem rivais, como vuvuzelas incómodas e histéricas.

  Por natureza própria e confirmada, falamos  alto com o vizinho do lado como quem assume que ele está a quilómetros de distância e sem nos ouvir. 

  Temos pré-amplificação hereditária garantida ao nível das cordas vocais. Estridência ao nível da língua. Entoação de eco em promontório  alpino.

  Somos, congenitamente, incapazes de sussurrar. Decibéis ao rubro. Como quem nasce equipado com microfones e colunas adequadas para espectáculos em grandes espaços. 

Desprovidos de motivação para passar despercebidos. Colocando-se em bicos dos pés e anunciando-se (ALTO): “Estou aqui, estou aqui!!!!”.

  Ao contacto leve com o areal não gaguejamos e perdemos as maneiras. Aparecendo na praia, desde cedo, com dois meses de forno não para garantir anonimato mas inveja. Evidenciando-se com ruído idêntico ao do Maracanã em dia de Fla-Flu, enquanto se avança pela zona dos chapéus dentro com toda  a torcida do futebol de praia em polvorosa.

O mundo bem pode ser um palco mas é no relvado atlântico que se revelam os talentos.

  Usam-se os quatro, cinco, seis ventos para levar a mensagem mais longe. Berrando como se os fígados estivessem a pingar derretidos, directamente, para a toalha.

Apregoando a dúvida se são mais as varizes, as estrias ou as ilhas de celulite da jovem à beira-mar. Se havia necessidade do cabelo loiro da mãe que a acompanha. E se os estampados florais nos fatos de banho da promoção podem ser considerados revivalismo de bom gosto.

  O relógio interior que nos regula o barulho anda desregulado há anos e o tom de conversa normal está subido e com débito de banda de garagem empenhada. 

  Colectivamente somos barulhentos. Falamos por cima de quem tiver que ser.

Não acreditamos em aparecer com pezinhos de lã. Andamos com um púlpito atrás, constantemente, convencidos de que estamos a falar com grandes plateias  e auditórios ávidos por nos ouvir. Sempre preparados para o contacto com as multidões.

Trombetas em riste anunciando-nos ao mundo. Em constante atitude provocatória toureira: “Ei, tu aí!?”.

  Em termos europeus fazemos claque por todo o continente. Damos a conhecer a vida ao mundo e subvalorizamos a descrição. Deixando para trás a pergunta: TANTO BARULHO PARA QUÊ?

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publicado por Carlos M. J. Alves às 09:54





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