Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III Relativizar por aí
A partir de hoje vou relativizar.
Passo a desvalorizar e a encolher os ombros.
Vou tirar importância às coisas. Passá-las de extrema a assim-assim e achar que não é tão mau como parece.
Vou enganar-me de propósito. Trocar códigos e PIN.
Não vou reparar em rugas, passo a descontar cabelos brancos e acabo a subtrair quilos a mais.
Tirar tempo aos atrasos e, por minha conta e risco, juros à dívida.
Aproximar distâncias e saltar degraus.
Vou abrandar a pulsação e diminuir batidas por minuto.
Abolir solenidade às cerimónias, abandonar ralações e por de lado preocupações.
Vou vencer o stress, desbaratar complicações e recuperar horas de sono perdidas.
Pânicos e desesperos não são para mim!
Não vou em crises!
Vou por fim às azias e mal estares, tirar graus à febre e não dar importância às alergias.
Acabaram-se as maleitas!
Vou ganhar anos.
Rejuvenescer.
Acabar, praticamente, recém-nascido.
Serei optimista. Passarei a descontrair, a desconsiderar, a deixar-me de pressas, a evitar confrontos e iras.
Acharei que há pior, que não vale o sacrifício, que se pensar bem… que depende do ângulo.
Vou andar de olho nas perspectivas e amantizar-me com o deixa andar.
A minha frase favorita vai ser: “pensando melhor…”.
Saindo de fininho quando a coisa der para o torto.
Nada será como dantes.
Estou a falar a sério! Muito a sério. Os dias não estão para brincadeiras.