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III Perdido na biblioteca

Quarta-feira, 28.03.12

Uma biblioteca é uma coisa séria. Uma responsabilidade. Invejo a coragem dos que cedem o seu espólio. Mas por alguma razão o fazem, habitualmente, após a morte. Embaraço?

Uma biblioteca é exigente. Em espaço. Em atenção. Em recursos.

A nossa biblioteca define-nos. Cresce connosco. Tremo só de pensar nisso. Se me tentarem perceber por intermédio da minha biblioteca arrisco a esquizofrenia. Ou pior. Já vejo o colete-de-forças. A seringa pronta a sedar-me.

    Um bibliófilo nunca tem livros suficientes. E isso paga-se - em todos os sentidos – nomeadamente nas assolhadas. É uma obsessão. Uma impossibilidade. Um bibliófilo que entra numa livraria é alguém que se põe a jeito. Está a pedi-las. É como se entrássemos num orfanato tipo Cedars House Rules, repleto de crianças (que nos observam com olhar condoído) e que é impossível não adoptar.

Em relação a outras dependências tem a vantagem de os sítios onde se adquirem os livros serem mais agradáveis e legais. E só essa.

    Quando mudamos de casa pomos mãos à obra (e à cabeça) para iniciar uma nova organização. A oportunidade perfeita. Encontraremos qualquer obra em menos tempo do que a menina do Continente chega à caixa cinco para interpretar o código de barras. Mas, antes dessa fase, chegamos à conclusão, quando estamos a encaixotar os livros, que uma biblioteca é feita de intocáveis e incontornáveis, mas também de más opções. Enquanto carregamos aquela edição, que na altura parecia imprescindível, essa é a gota de água que faltava para transbordarmos o copo da ilusão e ficarmos com a nítida e grave impressão de que ao longo dos anos andámos perdidos no trânsito (bibliográfico) decidindo-nos por alguns atalhos que se demonstraram becos sem saída. Ou cortámos à direita em vez da esquerda.

    Mais carregamos e melhor percebemos que há, também, os interesses que nunca o chegaram a ser ou que hibernaram. Mas que deixaram vestígios: mais livros. A aquariofilia que nunca ultrapassou o patamar compra na Amazon livro de bolso.

E os guilty pleasures. Que nos pesam na consciência. Nos atacam o orgulho. Nos fazem, duvidar do nosso bom gosto. Levando-nos ao questionamento do nosso “eu” literário. A que renunciamos e fingimos que não conhecemos, tratando-o como um “tu”. Aquele título que arrisca a trivialidade. Aquele nome associado a um género menor. Como sucede com o wrestling em que está lá quase tudo, mas no fim sabemos que não passa de show off. Envergonhados. Só que é tarde demais: já comprámos.

    Tenho a meu favor que a minha distração generalizada faz com que não encontre as chaves dentro do bolso. Porque havia de ser diferente com os livros? Preciso de um fio de Ariadne para encontrar o caminho de volta.

Ora, Ariadne ou Ariadna, filha de Minos, rei de Creta… mitologia grega, portanto, estamos a falar da prateleira?

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publicado por Carlos M. J. Alves às 11:49





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