Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III Música para o fim do mundo
Sem música e livros ficaríamos com mais horas por preencher.
No que me diz respeito estou completamente tranquilo. Já abasteci a minha biblioteca e se o mundo acabasse amanhã não me faltaria banda sonora para preencher os momentos finais. Em vinil, compact disc, MP3, Flac, Cue, Ogg… pelo sim, pelo não, tenho, também, algumas caixas com as temporadas completas das minhas séries favoritas.
É impossível determinar quanto tempo demorará o fim do mundo! É melhor precavermo-nos.
Posso ironizar quanto à roupa adequada para a ocasião. Hesitar quanto à última refeição. Mas no que diz respeito a música… musicalmente estou preparado tanto para o fim do mundo, como para as mais variadas hipóteses extremas: do acabar numa ilha deserta, a uma invasão marciana, ao reaparecimento dos dinossauros ou queda de meteoros que nos fará regressar a uma idade do gelo.
Pelo sim, pelo não ando sempre com CD’s à mão. O telemóvel tem gigas de Mp3. Não saio de casa sem o Ipod. Estou a postos.
Com tantos anunciadores de apocalipse, temo que algum irá acertar. E um destes dias, quando não estivermos a contar… zás!
Quero estar salvaguardado. Com música a jeito. Musicalmente estou prevenido para o fim do mundo. Quero que isso fique bem claro! Ao contrário da economia portuguesa, já elaborei um plano B. A minha estratégia de salvação passa pela britpop, vai até ao clássico, faz diagonais no Jazz, inclui música portuguesa, lateraliza na World Music…
E você está preparado para o fim do mundo? Musicalmente falando, claro? Ainda há tempo!?
De memória posso deixar algumas sugestões… coisas que tenho nas prateleiras do meu plano de contingência:
MILES DAVIS
1949 – The Complete Birth Of The Cool
1970 – Bitches Brew
1983 – Star People
1984 – Decoy
1985 – You’re Under Arrest
1986 – Tutu
1989 – Aura
1989 – Amandla
HERBIE HANCOCK
1965 - Maiden Voyage
1973 - Head Hunters
THE BEATLES
1965 - Rubber Soul
1966 - Revolver
1967 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
1967 - Magical Mystery Tour
1969 - Abbey Road
DAVID BOWIE
1969 - Space Oddity
1970 - The Man Who Sold the World
1971 - Hunky Dory
1972 -The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars
1980 - Scary Monsters (and Super Creeps)
PATTI SMITH
1975 - Horses
TOM WAITS
1980 - Heartattack and Vine
1983 - Swordfishtrombones
1985 - Rain Dogs
1987 - Franks Wild Years
FRANK ZAPPA
1976 - Zoot Allures
…
Nota: o fim do mundo é uma coisa séria. Uma lista para os últimos dias não é fácil. Aceitam-se propostas.
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III Linda Martini: numa sala de concertos perto de si

Casa Ocupada, que se juntou aos Ep's Linda Martini (2005), Marsupial (2008) e Intervalo (2009) e ao álbum Olhos de Mongol (2006) já tem algum tempo (2010) mas, ainda
assim, nunca é de mais falar nele.
Os responsáveis, com raízes profundas na cultura punk e hardcore da década de 1990, são os Linda Martini: Pedro Geraldes (guitarra e voz), André Henriques (voz e guitarra), a ilustradora (exposição Duas Gajas, 60 Desenhos de 2011) Cláudia Guerreiro (baixo e voz) e Hélio Morais dos Paus e If Lucy fell (bateria e voz).
Na sua força criadora transparecem os Sonic Youth de Thurston Moore, a energia desordenada da linha de Sintra, o inconformismo e a atitude punk e hardcore, onde fizeram escola.
Com hinos como Mulher-a-Dias (de Casa Ocupada), foram os concertos e a internet (via MySpace) que os divulgaram e que os ajudaram a crescer e a alargar o seu público, tornado-os num dos mais interessantes projectos da música portuguesa. Essa é a razão porque os Linda Martini (segundo consta dos anais, nome de uma amiga de Pedro Geraldes que este conheceu quando efectuou o programa Erasmus em Lisboa) vêm sempre a propósito. O ensejo, no entanto, desta vez foi dado pela participação num episódio do Musicbox Club Docs transmitido pela RTP2.
Aproveite para os ouvir quando tocarem perto de si. Não dará o seu tempo por perdido. Enquanto isso, para lá das gravações, nos arquivos da rádio Radar é possível encontrar dois podcasts do Programa Fala com Ela de Inês Meneses em que os convidados são Hélio Morais e Cláudia Guerreiro.
Passe palavra. Há coisas que não devemos guardar só para nós.
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III Lembra-se de Laura Palmer?
Longe vão os dias de Twin Peaks. Kyle MacLachlan já não é o agente do FBI Dale Cooper e passou a ser membro do clube das Desperate Housewives (ABC). Embora musicalmente celebrada (a banda Bastille dedicou-lhe uma música com o seu nome), já ninguém chora a morte de Laura Palmer. O luto terminou. Falling into the night. Como inspira(va) a banda sonora da sua epopeia. A vida continua.
Com o passar dos anos, lançado com o sucesso comercial de Elephant Man (1980), David Lynch, que a criou (com a ajuda de Mark Frost), passou por Mulholland Drive (2001). Tirou fotografias. Fez exposições. Andou pela internet. Abriu um espaço (surrealista?) em Paris (Silencio).
O senhor dos cabelos grisalhos que se sente (não sou só eu que acho!?) em Born to Die de Lana Del Rey (ver post Irmã Lana (Del Rey) abaixo), parece esquecido do fenómeno de culto Eraserhead (1977) ou isso já não lhe interessa. Ficou para trás conjuntamente com o aclamado Blue Velvet (1986). Pelo meio constam Wild at Heart (1990), Lost Highway (1997), o family movie The Straight Story (1999) e Inland Empire (2006).
E ainda arranjou tempo para a música, para lá do que se lhe conhecia da colaboração inspirada com Angelo Badalamenti (quem não se lembra da androgenia de Julee Cruise?) e do flirt musical de 1977 em Eraserhead.
Da maturidade dos seus 64 anos, a solo (embora conte como convidada especial com Karen O, vocalista da banda Yeah Yeah Yeahs, em Pinky’s Dream), temos agora (2011) para audição Crazy Clown Time.
Como em relação aos filmes do norte-americano, primeiro estranha-se e depois entranha-se.
Quando se justifica, Lynch, sussurra como quem é Leonard Cohen. Fá-lo em Stone’s Gone Up. Espacial. Atmosférico em Movin’ On. No geral, como quem diz, pede ou, simplesmente, exige como antigamente: Fire Walk With Me.
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III A irmã Lana (Del Rey)

Elizabeth Woolridge Grant. Conhece? Bem, o nome artístico, inspirado em Lana Turner e Ford Del Rey é Lana Del Rey. E agora? É bom que fixemos o nome. Também, seria impossível não fazê-lo. Já correu mundo.
Lana Del Rey bem podia ser a irmã mais velha que um dia saiu de casa para ser rica e famosa. Custasse o que custasse. Disposta a tudo. Certa de que o mundo está à sua espera. Preparada para o conquistar. Deixando tudo para trás. A terra demasiado pequena. A família pouco compreensiva (filha do milionário Rob Grant). E os amigos (poucos), convencidos de que ela o conseguirá (por eles e por si). Os que sempre acharão suficiente tudo o que ela quer abandonar. Estavam certos. Embora a história que estamos a contar não corresponda muito bem à realidade. Mas isso só ajuda a construir o mito.
Born to die?
Não tenhamos dúvidas de que alguns estão destinados a viver para sempre.