Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III A que propósito vem o amor?
Someone take these dreams away
That point me to another day
A duel of personalities
They stretch all true realities
Joy Division, Dead Souls

Ian Curtis morreu a 18 de Maio de 1980. Faz, portanto, hoje anos.
Mais do que comemorar-lhe a morte é mais importante louvar-lhe a vida. Ouvindo a sua música. E pode dizer-se tanto com tão pouco [Unknown Pleasures (1979), Closer (1980)].
Em Ian Curtis coabitavam a culpa, a angústia, e no final, a incapacidade de celebrar o sucesso [o abismo pode até existir na luz].
Não era um visionário. Um cientista louco. Um artista maldito.
Era, simplesmente, um homem. Comum. E isso, às vezes, é demasiado. Nalguns casos é até fatal. Nem todos sobrevivem.
Ian Curtis morreu a 18 de maio de 1980 em Macclesfield. Suicídio.
É possível continuar mesmo quando as almas morrem?
Quando elas partem o que podemos aproveitar de si?
A vida tem que nos querer e nós [quando ameaçados] querê-la de volta.
Talvez, essa seja a razão porque temos que pensar bem no que desejamos.
Afinal, a vida é a maior das responsabilidades.
Benção?
É o amor a oração que a louva?
Mesmo quando pode destruir-nos:
When routine bites hard
And ambitions are low
And resentment rides high
But emotions won't grow
And we're changing our ways
Taking different roads
Then love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
[Joy Division, Love Will Tear Us Apart]
A vida é só tempo que pedimos emprestado.
E um dia ela diz-nos que não. Acaba por matar-nos. Quando o decide.
E nós nada podemos fazer.
Há quem chame a isso destino. Talvez!
Naturalmente nem todos têm que se preocupar com isso.
Até porque há quem o torne evidente. E isso é já um grande legado.
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III Fernando Lopes [1935-2012]
[Poderá uma imagem valer mais do que mil palavras? Provavelmente...]

Quando me perguntaram , pela manhã, sobre Belarmino [1964], não percebi o porquê. Nem me veio logo o seu nome. Fernando Lopes.
Morreu esta quarta-feira com 76 anos.
Fundador do cinema novo português.
Generoso, dedicado, simples, discreto e de sabedoria omnipresente (quer ao balcão do Gambrinus quer no celuloide).
I'm just a whole lot of different simple people, seria uma forma de o dizer, usando um dos autores que citava amiúde: F. Scott Fitzgerald em Tender is the Night.
Não foi daqueles que passam pela vida como um “passeio dos tristes”. Muito pelo contrário. Também não fez daqueles filmes que só distraem. De todo.
Numa época em que se fala de excelência, mesmo sem nunca a ter atingido (nem ao de leve), ele conseguiu-a. Até antes desse tempo.
Uma Abelha na chuva [1971], Delfim [2002]…
Falava de e fazia cinema com paixão. Provavelmente ainda tinha dentro de si muita coisa para encontrar a imagem certa para a explicar. Fernando Lopes.
Falta, certamente, dizer mais coisas. Quem o conheceu deverá reconhece-lo, imediatamente. A amizade, por exemplo. Mas nem tudo se consegue blogar.
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III Miguel Portas [1958 - 2012]

O euro-deputado e fundador do Bloco de Esquerda Miguel Portas faleceu no dia 24 de Abril. Aos 53 anos. Vítima de cancro do pulmã
Podemos recordá-lo a si e ao testemunho comovente da sua mãe.
Às suas convicções políticas (concordando ou não com elas). Ou à sua envergadura (unânime) humana.
Enquanto arrumava uns álbuns antigos de BD (daqueles cuja antiguidade não os faz apetecíveis, com preços exorbitantes, mas só lhes aumenta a estimação) lembrei-me de si. Parece que era apreciador. Enquanto folheava um exemplar de Mister No [nº 7, 1979], na sua batalha contra o mal, distribuído pela Agência Portuguesa de Revistas (15$00):
Mister No, colocara-se, de certa maneira, involuntariamente, ao lado dos cangaceiros do sertão brasileiro, em luta contra os opressores dos humildes e especialmente contra o coronel Fonseca…
Há sempre alguma coisa que fica para trás. E que nos faz lembrar quem parte. Por vezes são só coisas simples. Insignificantes.
Mas, talvez por isso não se parta inteiramente.
A única coisa que importa é como sair desta maldita ratoeira…
Disse Mister No.