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III A realidade da política

Quarta-feira, 11.07.12

Boss [aposta do canal Starz] é a primeira série dramática de Kelsey Grammer (o saudoso Frasier), onde este representa o Mayor de Chicago. Criada por Farhad Safinia esta esplêndida série apresenta Tom Kane, o impiedoso Mayor de Chicago como uma figura poderosa, cuja acção se baseia num mandato onde a política se arroga direitos. Privilégios. Atenções especiais. Indultos. Namorisca se necessitar. Prevarica se lhe aprouver.

Há gente a faltar ao prometido. Amigo do amigo.

Um mundo do faz e dá o jeito. De escândalos prescritos. Ou em vias de. Do a mim não se aplica.

Feito de uma mão lavando a outra. De olhar para o lado se for preciso. De tu sabes que eu sei. E não faço nada se tu. Onde as boas acções não passam despercebidas. Um hoje tu, amanhã eu. Ou vice-versa.

De corta-fitas. Assente no deslize. Do orçamento falhado. Do improviso.

Um poder queimando as mãos. Compondo-se por via de terceiros. Um casa e descasa de alianças.

De lavar dos cestos. De faz de conta.

De fumo que todos juram nunca ter dado em fogo.

Onde por vezes se fica com a dúvida se a política em certas alturas não é só a solução mais cara.

   A primeira temporada constituída por oito episódios já terminou e a segunda que terá dez promete, ou não estivéssemos a falar de política.

 

Depois de se ver a Grande Reportagem SIC “Profissão ex-ministro” [de Pedro Coelho e José Silva (imagem) com edição de imagem de Andres Gutierrez] fica-se com a sensação de que a política em Portugal é um purgatório temporário de onde se ascende para um muito bem pago e exclusivo paraíso.

   A reportagem segue o rasto do percurso de meia centena de ex-ministros e ex-secretários de Estado [oito deles foram entrevistados],  depois de terem saído do governo. Detentores de importantes pastas em governos do PS, do PSD e da coligação PSD-PP, nas últimas duas décadas, muitos foram assumindo funções em empresas ligadas a sectores que anteriormente tutelavam: Pina Moura, Ferreira do Amaral, Dias Loureiro, Jorge Coelho... um rol de casos de antiguidades mais ou menos variáveis. No final percebeu-se, claramente, que o rendimento de todos subiu em flecha.

  O trabalho de investigação dos repórteres da SIC permitiu-nos compreender que a política nacional tem potencial de case study,  tal a sua singularidade: o abandono governativo como promotor de sucesso individual.

   Após o exposto e a norte ou a sul das habilitações de Sócrates ou Relvas, a leste de  Guterres a errar nas contas ou a oeste de um primeiro-ministro “indeciso” com datas é fácil justificar a desconfiança política dos portugueses. E ir a banhos em dia de eleições, indiferente aos níveis de abstenção ante a possibilidade de mais uma vez tudo se transformar num talent show em que os finalistas ludibriaram o júri.

 

   Em relação à política, por vezes, é difícil perceber onde acaba a ficção e começa a realidade.

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publicado por Carlos M. J. Alves às 19:56

III Mudar ou não mudar de vida, eis a possibilidade?

Sábado, 12.05.12

Muda de vida se tu não vives satisfeito

Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar

Muda de vida, não deves viver contrafeito

Muda de vida se há vida em ti a latejar

 

António Variações/Humanos, Muda de Vida

 

 

O mundo é feito de mudança. Dizia Camões. E o desemprego uma “oportunidade para mudar de vida”. Acredita Passos Coelho.

Não tem que ser um “sinal negativo”, afirmou o primeiro-ministro [numa conferência sobre o empreendedorismo].

Desengane-se quem acha que ele é mau. Não é.

Antes o advento do homem novo.

Não há idade que atrapalhe. Conjuntura que embarace.

Ainda que não rejubilando, o verdadeiro desempregado não desanima. Não deve!

Mesmo quando sufocando, com os gasganetes estrafegados pelas contas.

Convencido de que no sorteio do bem-me-quer, mal-me-quer, para a colocação o bem se vai sobrepor ao mal.

   Já Vítor Gaspar, tantas vezes acusado de ser mais alemão que português, austeridades à parte, foi-o desta vez, naquilo que temos mais de nosso: o pessimismo. Acreditando que “a satisfação de vida não se recupera”.

Coisa pouca ante a oportunidade subjacente.

Se achava que não muda quem quer, que pode tentá-lo, pensá-lo, até ser necessário, mas não é inevitável.

Estava enganado.

Pense de novo quem considerou que a mudança não se decreta. Que exige condições. Que se faça por isso.

   Mudar é fácil [e não se desvalorize o conselho anterior, do primeiro-ministro, de emigrar].

Mudar já? Não, isso era para ontem!

   Tinha que ser um político a afirmá-lo. Era inevitável.

Os governos têm nisso dado um bom exemplo. Mudanças, constantes de 360 graus.

Embora tudo ficando igual.

   Ao contrário da oposição [sempre negativista], não me sinto ofendido com as palavras de Passos Coelho.

Ou com a sua atitude inspirada de Lavoisier: nada se perde, tudo se transforma.

Penso que toda a polémica em relação às suas declarações é claramente política. E digo-o, pensando no que sinto sempre que tenho que votar.

Não posso falar por ninguém [nem o vou fazer] mas, na minha opinião, e não tenho a menor das dúvidas quanto a isso, o problema com o mudar de vida é idêntico ao de mudar de governo:

FALTA DE ALTERNATIVAS

 

 

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publicado por Carlos M. J. Alves às 18:37

III Miguel Portas [1958 - 2012]

Quinta-feira, 03.05.12
Miguel Portas

 

O euro-deputado e fundador do Bloco de Esquerda Miguel Portas faleceu no dia 24 de Abril. Aos 53 anos. Vítima de cancro do pulmã

   Podemos recordá-lo a si e ao testemunho comovente da sua mãe.

Às suas convicções políticas (concordando ou não com elas). Ou à sua envergadura (unânime) humana.

   Enquanto arrumava uns álbuns antigos de BD (daqueles cuja antiguidade não os faz apetecíveis, com preços exorbitantes, mas só lhes aumenta a estimação) lembrei-me de si. Parece que era apreciador. Enquanto folheava um exemplar de Mister No [nº 7, 1979], na sua batalha contra o mal, distribuído pela Agência Portuguesa de Revistas (15$00):

 

 Mister No, colocara-se, de certa maneira, involuntariamente, ao lado dos cangaceiros do sertão brasileiro, em luta contra os opressores dos humildes e especialmente contra o coronel Fonseca…

 

Há sempre alguma coisa que fica para trás. E que nos faz lembrar quem parte. Por vezes são só coisas simples. Insignificantes.

Mas, talvez por isso não se parta inteiramente.

 

A única coisa que importa é como sair desta maldita ratoeira…


Disse Mister No.


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publicado por Carlos M. J. Alves às 10:00

III Próxima paragem terceiro mundo

Quarta-feira, 02.05.12

  [Um dia nas compras ou um país ao desbarato?]

 

Desemprego galopante. Empobrecimento acelerado. Pessoas desesperadas, de tensão arterial alterada, em AVC iminente, capazes de tudo, agredindo-se, por metade do preço. Fazendo jus ao provérbio: casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. Improvisando, Kumbaya, kumbaya.

Portugueses. Tentando acompanhar o grupo da frente. Ou, simplesmente, sobreviver.

Pouca terra, pouca terra.

Ressentindo-se do consumismo. Desbaratando a dignidade pelo desconto na margarina.

Pouca terra, pouca terra.

Retratos de um país envelhecido, perdido em filas de promoções para a gasolina ou outras. A que não pode renunciar. Obrigando-se à comparência estimulado pela poupança imprescindível.

Pouca terra, pouca terra.

Infeliz, comprometido com a austeridade, com descontos de 50% no supermercado, no dia do trabalhador. Respondendo ao apelo:

Pingo Doce, venha cá!

De polícia patrulhando a secção dos congelados.

Pouca terra, pouca terra.

Idosos, jovens, empregados, dispensados, ex-classe média e baixa digladiando-se por legumes frescos a bom preço, afinando com a voz off:

 Sabe bem pagar tão pouco!

Não bastava o FMI, o BCE! O saque estendeu-se até às prateleiras dos hipermercados, pilhadas pelo descontrolo. Esquecidos vão os brandos costumes. De que valem quando se trata de crise?

Sabe bem pagar tão pouco!

Episódios grotescos da corrida mais louca do mundo.

Pouca terra, pouca terra.

   Podemos não ter condições para embarcar no comboio dos mais ricos, estamos até bem longe dessa realidade, mas em relação aos últimos lugares a tendência é para os lugares cativos.

Pouca terra, pouca terra.

São nossas as primeiras carruagens.

De olhos postos no pão e leite com 50% de desconto.

Sabe bem pagar tão pouco!

Mas até aí temos de chegar à fila da frente (consumo mínimo 100 euros). O que está disposto a fazer para lá chegar? Entretanto, enquanto pensa…

   Olá, terceiro mundo!

Pouca terra, pouca terra.

   Encontramo-nos na charcutaria. Cantando, Kumbaya, kumbaya. Na próxima promoção.

Já tem senha? É melhor guardar vez. Não vá fechar mais cedo.

Sem aviso prévio.

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publicado por Carlos M. J. Alves às 10:00

III Dia internacional dos trabalhadores?

Terça-feira, 01.05.12

O dia do trabalhador goza de honras de feriado no Brasil e entre nós. Mas não só.

É internacional e celebra os activos nacionais em geral e as relações laborais em particular.

Por cá, estas últimas, vão-se ressentindo dos eflúvios da crise. Vivendo de acordos selados com manigâncias de Pandora. Ensombrados por aquisições asiáticas exigentes em custos laborais baixos, em que na versão chinesa um triângulo, embora se assemelhe a um triângulo ordinário, deve oferecer, preferencialmente, a excepção de ter quatro lados para ser atractivo no preço.

   A situação estabelecida tem alimentado um agudizar de tensões e enervamentos entre as partes, com desconfianças mútuas. De um lado o patronato. Exigindo disponibilidade para construir pirâmides. Do outro, sindicatos (com centrais divididas), em Armagedão iminente, idealizando um tecido empresarial com corações com consistência de soufflé, de nariz pingando como um radiador furado pela comoção e pelo remorso marxista do lucro.

Entre os dois extremos alienados inconciliáveis, dizendo e desdizendo levianamente as suas posições, está a força laboral (que a crise que tudo lhe exige tem vindo a desempregar). Neste 1 de Maio, um pouco por todo lado, ela celebra o que, no caso português, foi reprimido durante o Estado Novo.

O que celebra? Isso depende de que lado estamos.

 

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publicado por Carlos M. J. Alves às 10:00

III Sem comentários

Terça-feira, 27.03.12

[Manual de sobrevivência para comentadores banais]

 

 

Existem de todos os tipos e origens. Habilitados, desabilitados. Experientes. À experiência.

Com prosápia gourmet, qualidade Beluga. Em aparato popularucho francesinha.

Rápido e desenvolto ou mancando na observação final.

Adivinhou quem disse comentador e, também, aceitamos quem falou em crítico.

É uma espécie de queixinhas. O preferido da professora. Um bufo.

Um Rottweiller assanhado. Esfaimado. Sem as vacinas em dia. Fazedor de vítimas.

Achtung! Uma distração e induz em erro. Achtung! Uma hesitação e convence. Achtung!

    Cada português tem per capita omnipresente no seu quotidiano media, pelo menos, um Marcelo Rebelo de Sousa, um António Vitorino e um Miguel Sousa Tavares em regime on demand basta mudar de canal.

All the opinion makers where do they all come from?, poderiam questionar os Beatles.

Mudar de vida pode ser uma possibilidade. O "ex" é um caldeirão borbulhante de poção mágica de onde brotam Obelixes para o último reduto luso da resistência analítica.

O ex-desportista. O ex-árbitro. O ex-político. A ex-vedeta.

Em Portugal a inactividade leva inevitavelmente à facilidade no rescaldo. À filigrana interpretativa. O Mr. Magoo da arbitragem transforma-se num Pierre Luigi Colina da exegese dos lances da jornada. O ministro demissionário um D. Quixote dizimador de moinhos da política opressiva. O compositor inexistente em avaliador de obra alheia. O caga-tacos faz-se tomba gigantes.

O Reboot profissional põe a zeros as fragilidades. Emancipa potencialidades. Um batptismo retemperador nas águas do rio Jordão do painel televisivo inocenta vícios e desperta qualidades inexistentes.

    Na maioria dos casos, em relação aos comentários/críticas A.K.A bitaite ou chorrilho a melhor posição a adoptar seria, por parte dos dissiminadores:

    a) retenção na fonte;

    b) mocinha recatada e prendada resguardada dos olhares alheios.

I wish. Comentadores não os leva o vento. O comentador (a soldo ou sem facturação) é um cidadão viajado com passaporte pronto e em ordem, com visto assegurado para circular, low cost, livremente pelo espaço sideral da galáxia opinativa. 

Como se trata de um território habitado por monstros ferozes (os outros críticos) e perigos imensos (as donzelas enxovalhadas) todas as cautelas são poucas. A beira do precipício algures entre a preferência e a inimizade de estimação em que se encontra a análise leva o comentador a ter que se precaver.

Ficam alguns conselhos.

A apetência do comentador em mergulhar em auto-deslumbre narcisicamente nas águas atraído pelo(a) seu/sua reflexo(ão) é arriscada. Em caso de queda às águas como fazer uma boia? Caro comentador, dispa as calças, dê um nó em cada uma das pernas. Atire-as ao ar de forma a enchê-las. Amarre o cinto no cós das calças. Voilá!

Outra situação. Em caso de partilha de espaço com um crocodilo o comentador deve correr aos ziguezagues. Pressionar o pescoço do animal e tapar-lhe os olhos caso cheguem a vias de facto.

Etc, etc.

    Moral da história: devido aos comentadores há uma situação em que aprecio (e prefiro) verdadeiramente os políticos. Quando dizem: NÃO COMENTO.      

Achtung Baby.

 

 

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publicado por Carlos M. J. Alves às 19:07

III É a política estúpido

Sábado, 24.03.12

Durante anos assisti com assiduidade de telenovela a ER (Serviço de Urgência), incluindo dramas e personagens na minha vida. Um misto de exemplo e heroísmo anónimo e abnegado. Salvamentos on the edge.

Preciso da minha dose regular e catártica de life-changing experiences. Desalojando-me do sedentarismo (emocional, profissional). Expulsando-me da comfort zone. Que me leve a um quando for grande quero ser assim ou, no caso, ainda vou a tempo de fazer algo semelhante. Do tipo No Turning Back (BBC one 2010), Portugueses pelo Mundo (sou dos que ficou) ou os projectos made by Laurinda Alves: Portugueses sem Fronteiras ou, mais recentemente, Feitos em Portugal (em exibição ao fim-de-semana na RTP2). São modelos/modos de vida preenchida (celebrando um êxito não obrigatoriamente económico). Currículos ricos. Almas empreendedoras. Fazem mais pela moral do país (em concreto a minha) do que qualquer discurso político. Acentuam um certo gosto em ser português. De que é exemplo o primeiro episódio de Feitos em Portugal com Camilo Rebelo (arquitecto co-autor do Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa) e o segundo com João Catarino (Ar.co e Urban Sketchers), que tem presença nos links (ali ao lado) da Máquina da Preguiça, para facilitar/incentivar as visitas.

    Os programas de Laurinda Alves (já era – ou também era - assim na XIS) vão como o seu blog ao que importa: a substância da vida. O humano que anda esquecido em nós (não vou voltar a falar de ER, Dr. Mark Greene, enfermeira Abby Lockhart...).

    A política portuguesa é a política do gasto incontrolável. Despesismo, despesismo, despesismo. Esfregando-nos na cara o aquém da meta. Da pobreza do PIB. Do défice galopante. Do irremediável. Do inevitável. Da natureza antiga: «Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho que não se governa nem se deixa governar!» (frase escrita por Galba um general romano acerca do que eramos, ainda em génese, sob a forma de lusitanos).

    A política portuguesa é da parceria mal sucedida e indemnizada (em excesso). Da falência (também em excesso). Não encontro aí motivação. Tento percebê-la, mas há algo que me escapa. Fala-se demasiado em corrupção, desvio, etc. Nessas alturas repito para mim: É a política estúpido. Mas nem assim. E como paliativo tipo Just one more fix ligo para a RTP2. Pronto para ver salvar o mundo. Dr. John Carter.

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publicado por Carlos M. J. Alves às 15:50





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