Máquina da Preguiça®
O texto é uma máquina preguiçosa [Umberto Eco]
III Tudo a correr bem
Para os 50% a quem, de bom grado, cedo a minha almofada.
Percebo que não temos esse grau de intimidade mas ainda sente borboletas a esvoaçarem na barriga na presença da sua cara-metade? Fica impaciente quando ele ou ela não chega ou se atrasa? Isto para não falar do toque da pele que electrifica, da voz que magnetiza e do pulsar do sangue…
Tira prazer em momentos que queria que não terminassem nunca?
Bem, meu amigo ou minha amiga esses são sintomas clássicos de alguém que está apaixonado e é feliz.
Não acredita? Pode confiar! Se não faça o seguinte teste:
Pergunte-se se voltaria a ficar com a pessoa que lhe ocupa 50% da sua cama e se a resposta for sim acabou de me dar razão.
Não há como enganar!
A sua felicidade até pode representar numa escala cósmica uma insignificância nos biliões que contabilizam o cosmos mas a felicidade não faz contas e não aparece em folhas de cálculo por isso fique tranquilo e lembre-se que apesar disso se o universo está em expansão porque não pode o mesmo suceder com a sua felicidade?
E fique, também, ciente que os homens andam há séculos a serem atraídos pela felicidade como ratos para a ratoeira durante a busca, desenfreada, por queijo numa união perfeita género carapaus assados e molho à espanhola. Um Jing capaz de completar um Jang. Autênticos Romeus procurando Julietas, perdidos em eternas conquistas de belas Helenas.
Complexa ou simples, a felicidade tanto deixa um sorriso de orelha a orelha como, por causa de si, se fica com uma lágrima no canto do olho. Às vezes anda por um fio mas, felizmente, tem alma de fénix e longevidade de tartaruga.
Apresenta-se das mais variadas maneiras: e sem duração conhecida: no fim de um olhar, com despertares remelosos e de pés de fora, fins de noite embriagados e sem equação ou mezinha sabidas destinadas. A salubridade da felicidade sobrevive num T0, deslocando-se numa pick-up em risco de falência motora e sem amplitude 4G.
A felicidade é, geograficamente, párida e climatericamente ambivalente. Apesar de não ser obrigatório é apartidária e não favorecida em ambiente de esquerda, direita ou centrista. Não tem exclusividade em dias especiais ou horóscopos de fortuna.
Embora os olhos também comam, podem até não funcionar porque o que interessa à felicidade é mais os conteúdos e menos as formas, afinal, é o coração que sente.
Para uns é Hyde e para outros Jekyll. Para o optimista está sempre à espreita, para o pessimista esconde-se e uma coisa é certa: não é para todos. É, por isso, conveniente estar de olho em si, atento, para dar conta dela e não a deixar escapar por entre os dedos, entre piscares de olhos, uma vez que só é de quem a agarrar.
A felicidade é andar em contramão em relação à tristeza. Se a quisermos descrever dizemos que é uma descarga de adrenalina ou um murro no estômago e que por ela enchemos a cara e fazemos más figuras. E, nem assim, estamos perto. É mais um bate bate coração ou onde é que eu estava com a cabeça? Por ela atura-se o impossível, dizem-se baboseiras e fazem-se fosquices e disparates.
É sabido que a felicidade tem muito que se lhe diga. Para começar porque aparece onde e quando menos se espera e não dá garantias, embora vença improbabilidades. Exige empenho de funcionário devoto que só sai depois do expediente tratado, que chega antes de todos e não se preocupa com férias, feriados, subsídios ou horas extra. Na expectativa de conquistar um lugar na terra do leite e mel. Na esperança de que em relação à felicidade, que também tem maus dias, tudo corra bem.